Éramos uma família moderna, ainda não estávamos casados, minha filha era do primeiro relacionamento, deixei minha terra para viver na terra do varão que Deus colocou no meu caminho. Quando ainda namorávamos, no começo, sem muitos planos de vida nem perspectiva, ele falou sobre o sonho de ter um filho homem, já tinha escolhido até o nome. Ouvi indiferente, apreciei a expectativa, tive certeza de que era um bom homem e que estávamos andando do mesmo lado. Por isso larguei tudo, minha morada próximo da Praia de Iracema, o escritório montado, clientes, convívio com a família, coloquei minha filha a tira-colo para segui-lo. Entreguei a casa, fui pra casa de seus pais para vender os móveis e juntar dinheiro para viagem.
Origem: Fortaleza - Destino: São Paulo.
Chegando lá, ele já estava trabalhando e abrigado no alojamento da empresa. Não parecia mais aquele homem vistoso, forte e cheio de vida que conheci no Ceará, estava muito abatido, magro e maltratado. Dessa forma pudemos começar uma nova história, eu, ele e a Lívia, que ainda era bebê. Ele tinha reservado uma casa de 2 cômodos (cozinha e quarto), uma cama de solteiro pra nós 3 e um fogão. Levei meus computadores na bagagem para poder trabalhar, mas não tinha mesa, nem onde colocar.
Ele trabalhava o dia inteiro e eu e a princesa ficávamos em casa esperando o tempo passar. Eu lava, limpava, organizava, não sei o quê, a casa era tão pequena, não tínhamos quase nada, mas nunca fui o tipo de pessoa de ficar de braços cruzados. Nossa vida era tão simples que nos dias difíceis passamos com um miojo o dia inteiro, eu e a pequena. Ele ainda conseguiu cadastro na Prefeitura para receber leite, tinha os dias certos de pegar, e eu não podia nunca jamais falahar, pois eram poucos nossos recursos e qualquer falha seria uma grande perda. Fiz amigos pela vizinhança, fui me encantando com o sotaque, com os costumes, só estranhava a intolerância do paulista, por exemplo: uma vez fui comprar frutas no carro que passava na porta de casa vendendo e o moço pediu licença para desligar o som, pois os vizinhos poderiam reclamar... oi? Reclamar do som do carro de fruta? No Ceará num tem disso não! O povo da minha terra é tão barulhento e alegre, pode reclamar de tudo menos do trabalho dos outros. Assim fui encarando a diferença de costumes. Enfim, conheci uma negona muito alegre, desenrolada e prestativa, combinei com ela deixar a bonequinha aos seus cuidados para poder procurar um lugar ao sol, conseguindo trampo pra mim, dividia com ela, aliança firmada. Ela topou.
Comecei meu trajeto visitando a gráfica mais próxima para orçar uma revista de anuncio para os comércios da redondeza, ciente do valor, calculei os espaços gráficos, a quantidade de páginas e exemplares e tracei a rota. Bati de porta em porta na avenida mais próxima, mas o resultado foi frustrante, as pessoas me olhavam com desprezo, me constrangiam e o não era óbvio. Sempre fui tão creditada na minha jornada profissional, estava acostumada com a aprovação e credibilidade, isso sempre me motivou, minha mãe foi a primeira a acreditar em mim, se ela, uma grande vendedora, guerreira, empresário, melhor funcionária e toda a bagagem que tinha e eu assistia desde criança dizia e investia na minha capacidade, nunca fui capaz de duvidar e honrava suas expectativas depositadas em mim. Depois vinham os clientes, minha mãe era tão exigente e autoritária que qualquer cliente eu tirava de letra, eles me achavam pontual, desenrolada, paciente e perseverante (frutos da minha educação. Ser rejeitada sem ao menos propor ou demonstrar minhas possibilidades era devastador para o meu coração, eu voltava pra casa de cabeça baixa e muito triste pensando, bem que minha mãe avisou que São Paulo não tem lugar pra cearense. Desisti facilmente da revista e voltei na gráfica atrás de uma oportunidade de emprego. Eles já tinham designer, mas o dono gostou da minha perspicácia e sugeriu o cargo de vendedora com um diferencial, eu mesma faria as artes dos meus clientes. Bom, vi ali uma grande oportunidade, eu estava sendo assistida por um empresa, tinha material, mostruário, telefone, internet e a possibilidade de captar clientes. Mas vender era dom da minha mãe, o meu era desenhar. Relutei uns 2 meses, consegui alguns trabalhos, visei a imagem gráfica da empresa e desenvolvi algumas artes, como o logotipo deles, que até hoje é o mesmo:
Nesse meio tempo fui contemplada! Num momento de reconciliação com o marido, copulamos e fizemos uma criança rs por isso nas idas para o trabalho, ao retornar para casa pro almoço eu sentia uma forte sonolência e era humanamente impossível não cair num sono profundo, o corpo reagia devido a gravidez. Percebi que começaram a me olhar com desdém, ouvi piadinhas subliminares como se eu fosse uma mulher preguiçosa, logo eu? Aquele ambiente começou a me deixar desconfortável e por fim, resolvi curti minha realidade sem trabalho em paz e em casa, dependendo do marido, afinal era exatamente isso que ele queria, pois nunca aprovou a idéia de eu trabalhar fora.
Cerveja que fantárdigo, quando eu estava com o barrigão pracolá, em tempo de explodir, um dos patrões foi até minha humilde residência me pedir para voltar, mas impôs uma condição: Sem registro na carteira até que você descanse e possa retornar para a gráfica. E o designer que vocês tinham? - Ocupará outro cargo, auxiliando as atividades da diretoria. Pois bem, amém. Assim finalmente pude exercer minhas atividades nessa terra difícil de se viver. Glória a Deus!
A família ía para os cultos, pois foi assim que o abençoado me conheceu, com a cara toda molhada de lágrimas por causa da presença do Senhor, eu congregava na Assembléia de Deus Bela Vista, em Fortaleza, logo continuamos a caminhada em Sampa. A igreja era algumas quadras de casa, mas a megalópole, diferente da minha cidade era cheia de subidas e descidas, tinha escadas no meio das ruas, subidas intermináveis, ruas tortas, vias que levavam para lugares que a gente pensava que ia sair em outro lugar, mas saia em um canto nada haver com nada, achar um endereço era um grande desafio, enfim, uma cidade (com licença da palavra) muito mal projetada, já viajei por muitas cidades, mas nunca vi nada parecido com aquela estrutura decadente. E olha que eu morava na Zona Sul, do lado do Metrô Jabaquara. Em Fortaleza as ruas são planas e paralelas. Ok! Aos 7 meses de gestação eu não conseguia mais subir a ladeira que nos levava até a igreja, então paramos de congregar. E acredite, não lembro mais de ter congregado desde essa época.
A família ía para os cultos, pois foi assim que o abençoado me conheceu, com a cara toda molhada de lágrimas por causa da presença do Senhor, eu congregava na Assembléia de Deus Bela Vista, em Fortaleza, logo continuamos a caminhada em Sampa. A igreja era algumas quadras de casa, mas a megalópole, diferente da minha cidade era cheia de subidas e descidas, tinha escadas no meio das ruas, subidas intermináveis, ruas tortas, vias que levavam para lugares que a gente pensava que ia sair em outro lugar, mas saia em um canto nada haver com nada, achar um endereço era um grande desafio, enfim, uma cidade (com licença da palavra) muito mal projetada, já viajei por muitas cidades, mas nunca vi nada parecido com aquela estrutura decadente. E olha que eu morava na Zona Sul, do lado do Metrô Jabaquara. Em Fortaleza as ruas são planas e paralelas. Ok! Aos 7 meses de gestação eu não conseguia mais subir a ladeira que nos levava até a igreja, então paramos de congregar. E acredite, não lembro mais de ter congregado desde essa época.
O príncipe nasceu! Quem escolheu o nome foi minha mãe, e para a nossa surpresa era o mesmo nome que o pai do varão sonhava na época que estávamos namorando, Kayke. Ficamos muito maravilhado com as coisas de Deus. Depois de alguns dias de nascido, eu e o pai casamos para honrar a palavra da verdade, no cartório, pois como era uma vida simples, não tínhamos recursos para evento na igreja. Todavia, de fato, entretanto, estávamos encobertos pela lei de Deus e dos homens. Éramos uma família real, humilde, batalhadora e tínhamos filhos lindos que só me davam alegria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário